sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Mundo é um palco


O livro O Mundo é um palco De Bill Bryson conta a biografia de Shakespeare. Num site, encontrei uma resenha do livro feita por Carlos André Moreira. A partir da leitura, observem e digam se concordam ou não com a opinião do autor.


O "não-saber" é um ponto de partida importante para o trabalho do jornalista e escritor Bill Bryson. Por não saber o porquê de os oceanos serem salgados e uma série de outras coisas a respeito do nosso planeta, Bryson começou uma extensa pesquisa sobre a história da Terra e a condensou em uma das melhores obras recentes de divulgação científica, apesar do título algo pretensioso de Breve História de Quase Tudo não dar a entender isso, aparentemente.

Agora, ele faz algo parecido com um dos personagens fundamentais da história universal da arte – e sobre quem, paradoxalmente, se sabe muito, mas muito pouco.

O dramaturgo inglês William Shakespeare é, provavelmente, um dos nomes sobre quem mais páginas já se escreveram no planeta. E sobre quem menos se tem informações confiáveis. O grande mérito de Bryson nas breves 200 páginas de Shakespeare, o mundo é um palco (Companhia das Letras), é que ele consegue separar com muita pertinência e com um texto delicioso o que é fato (alguns) e o que é conjectura (muita coisa). O que se pode afirmar com certeza (pouco) e o que é apenas uma ótima história sem nenhuma prova que a sustente (a maioria). Como o próprio Bryson diz logo na introdução do livro:

Embora tenha deixado quase 1 milhão de palavras de texto, temos apenas catorze palavras suas de próprio punho — o nome assinado seis vezes e as palavras "por mim" em seu testamento. Nem um único bilhete, carta ou página de manuscrito sobrevive. (Algumas autoridades acreditam que uma parte da peça Sir Thomas More, que nunca foi encenada, tenha sido escrita pela mão de Shakespeare, mas isso está longe de ser uma certeza).

Shakespeare: o mundo é um palco ostenta na capa a expressão "uma biografia", mas seria mais correto dizer que é uma interpretação. Bryson se dedica não a contar a vida de Shakespeare, mas a nos contar o que se contou até hoje sobre Shakespeare e o quanto há ou não provas de que essas histórias possam ou não ter acontecido.

Por exemplo: Shakespeare não teria escolaridade formal e mesmo assim escreveu peças que são obra de gênio – um dos argumentos que muito já se usou para questionar a identidade de Shakespeare. Só que Shakespeare era filho de um funcionário que gradativamente ascendeu até a posição equivalente à de prefeito de Stratford, que, na época, tinha uma escola aberta aos filhos da comunidade. Não há histórico escolar de Shakespeare, é claro, mas também não há algo que exclua o fato de ele haver freqüentado esse colégio (não havia registros de alunos nessa escola nesse tempo). E quanto ao fato de Shakespeare não ser Shakespeare: Bryson lembra com muita propriedade que essa sempre foi uma dúvida mais nossa do que dos contemporâneos de Shakespeare, que nunca tiveram essa dúvida.

O livro também conta sobre a escassez de documentos sobre a vida do dramaturgo, incluindo sua certidão de batismo, um processo no qual testemunhou (numa rusga entre o proprietário da estalagem em que vivia em Londres e outro inquilino) e seu testamento, bastante lacônico. Suas próprias peças só foram tão preservadas pela pertinácia de dois de seus colegas da companhia em que atuava: anos depois de sua morte, coligiram as peças em um folio que hoje é chamado, apropriadamente, de Primeiro Folio. Caso contrário, as obras do gênio inglês poderiam ter sumido como a maior parte do teatro elizabetano o período.

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