quinta-feira, 29 de abril de 2010

'Troilo e Créssida’ de William Shakespeare

Uma peça inédita que dá o poder às mulheres

Esta matéria foi retirada do site Correio da Manhã.

Há 30 anos que o encenador Mário Barradas queria levar à cena ‘Troilo e Créssida’, de William Shakespeare – texto que permanecia inédito nos palcos nacionais.


O projeto até chegou a estar em cima da mesa, numa co-produção entre o Cendrev – Centro Dramático de Évora e o Teatro Nacional D. Maria II, mas só agora, depois da morte do encenador (no ano passado), uma colaboração entre três estruturas de produção permitirá realizar um sonho antigo.

O espectáculo – que estreou esta quinta-feira no Teatro Municipal de Almada, sob a direcção de Joaquim Benite – resulta, mais concretamente, de uma coprodução entre a Companhia de Teatro de Almada, a Companhia de Teatro de Braga (CTB) e a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve, e segundo o encenador (que neste trabalho contou com a colaboração de José Martins), “é uma espécie de cruzada anti-heróica”.

“É um texto que eu tinha lido há 30 anos e nunca pensei fazer... Tenho feito peças de Shakespeare, tenho, inclusivamente, planos para fazer outras, mas esta não era uma delas”, revela, acrescentando que depois de a reler, recentemente, mudou de ideias – dada a sua originalidade.

“É um texto que Shakespeare elaborou usando estilos diferentes: ele junta a comédia dell’arte com o drama, a farsa com a tragédia. No fim, porém, há aquela unidade esquisita que é típica das peças do Shakespeare e que continua a fascinar o público contemporâneo.”

Em ‘Troilo e Créssida’ Benite diz ter sublinhado a questão feminista – que lhe pareceu uma das chaves mestras da peça. “Há quem diga que a peça é enigmática, mas eu não acho. Para mim, é um texto que ainda hoje pode ser lido como um manifesto feminista, já que o protagonista não é um homem, mas antes uma mulher. Troilo é fraco, Créssida é forte. É, de certa forma, uma mulher moderna, que faz frente a qualquer situação.”

Sobre a coprodução, Benite diz que é uma forma de “rentabilizar os financiamentos do ministério da Cultura”. “Felizmente está a tornar-se popular entre nós”, comenta.

“É algo que no teatro europeu já se faz há muito... Aqui é que ninguém queria sair da sua capelinha. Mas é óbvio que é possível ir mais longe se trabalharmos em conjunto. Este espetáculo, por exemplo, que tem um elenco de mais de vinte atores, nunca teria sido possível a não ser em colaboração com outras estruturas”, remata.

Com cenografia e figurinos de Christian Rätz, o elenco é composto por atores da Companhia de Teatro de Braga (André Laires, Jaime Soares e Mónica Lara) e por atores habituais de Almada, entre os quais Alberto Quaresma, André Gomes, Carlos Santos, Luzia Paramés ou Maria Frade. Luís Vicente, diretor artístico da ACTA também entra no espetáculo como ator.

‘Troilo e Créssida’ estará no Teatro Municipal de Almada até 16 de Maio, seguindo depois para digressão nacional: Auditório Municipal de Lagoa (22 e 23) e Teatro Circo de Braga (3, 4, 5 de Junho).

Nenhum comentário:

Postar um comentário